quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Gouveia, Minas Gerais, Brasil, Afrânio entrevista Jayme Martins de Oliveira


Afrânio entrevista Jayme Martins de Oliveira



      "Dentre as inúmeras crises enfrentadas pelo setor garimpeiro em nossa região, sem dúvida foi entre os anos 1870 a 1890, pois a África abarrotou os mercados europeus de diamantes ocasionando desta forma, a queda dos preços e inviabilizando totalmente as atividades do setor.
      Devido a este fato, empresários de Diamantina resolveram partir para Europa na tentativa de dominar a arte de lapidar diamantes e, por conseguinte, agregar valor às pedras preciosas. Foram montadas às margens do Rio Chiqueiro e do Córrego de Lava Pés algumas dessas fabricas de abrilhantar e dar forma as gemas. Época esta que não existia energia elétrica e as rodas de lapidar eram tocadas com a força das rodas d’água, que também, aos poucos foram se declinando por falta de modernização.
         Em 1940 logo após a quebra da Fábrica São Roberto e,  nessa mesma época, a inauguração da Usina de Hidrelétrica de Paraúna (Ulha Branca), as fábricas de lapidação puderam ser tocadas por motores elétricos e vieram para as ruas da cidade. Nesse período o já então experiente lapidário, Sr. Aprígio Martins, reinicia suas atividades na Av. Juscelino Kubitschek em Gouveia".

Jayme Martins de Oliveira, filho de família tradicional em nossa cidade, servidor público federal, aposentado,  nos recebe para um entrevista. Mora em confortável casa de campo nos arredores de Gouveia. Extremamente organizado, zeloso e ótimo anfitrião. Depois de um café acompanhado com pão de queijo feito na hora e frutas colhidas no quintal, nos conta da experiência de seus familiares com a lapidação de diamantes e nos fala também sobre seu retorno a Gouveia, exemplo logo seguido por três de seus irmãos.



AfrânioComo seu avô Aprígio Martins iniciou as atividades na Lapidação?
JaymeMeu avô, ainda jovem, juntamente com Quintiliano Miranda viveram a efervescência da lapidação de diamantes em Gouveia, seguindo uma tendência da época como em toda a região de Diamantina.

Afrânio: Quais eram as condições locais (logística), para se instalar uma lapidação?
Jayme: Em primeiro lugar uma boa queda d’ água para gerar a força motriz e movimentar as rodas de Lapidar… Tal transmissão era feita através de correias ligadas a roda d'água...”As rodas de lapidar eram discos de aço mais ou menos do tamanho de um disco de vinil, e o atrito do Diamante com o disco iam dando forma as pedras. Dependendo da força gerada pelo volume da água e sua queda, essa mesma roda d’água conseguia tocar vários rodas de lapidar e em cada disco trabalhava um lapidário”.

AfrânioComo aconteceu essa nova fase da lapidação vivida por seu avô?
Jayme: Logo após a segunda guerra mundial, apareceu aqui em Gouveia o senhor  Walser, um diamantário judeu, sabedor da larga experiência dos Gouveianos em lapidar pedras, que propôs  ao meu avô montar uma fábrica movida a energia elétrica em sua casa. O Sr. Aprígio Martins seria o responsável e  estaria a frente dos negócios, pois o judeu na condição de estrangeiro não poderia gerir os negócios.

Afrânio: Qual era a origem das pedras lapidadas na região nessa época?
Jayme: Todas as pedras vinham de fora,  a produção local não conseguia suprir os lapidários de Gouveia. E, muitas vezes, o excesso de pedras fazia com que meu avô Aprígio distribuísse as pedras para as outras lapidações existentes em Gouveia.

AfrânioO Sr. Walser vivia em Gouveia?  
Jayme: Não, ele morava no Rio de Janeiro e vinha apenas uma vez por ano a Gouveia.

AfrânioComo era feito o transporte de pedras e os pagamentos de serviços aos lapidários?
Jayme: O transporte das pedras eram realizados através dos correios, que na época desembarcavam em Barão de Guacuí. Os pagamentos por serviços prestados eram enviados por ordem de pagamento através do antigo Banco da Lavoura.

AfrânioPor que seu avô não lapidava os diamantes extraídos nas lavras da região? 
Jayme: Não sei dizer quais os motivos pelos quais os garimpeiros daqui preferiam vender seus diamantes, quase em sua totalidade, ainda no seu estado bruto, para outros lugares. Esta ação prejudicava todos  os envolvidos na manufatura dessas gemas que, muitas vezes, como já disse antes, meu avô distribuía o excesso de pedras com outras casas de lapidação existentes em Gouveia, resolvendo assim problemas de ociosidade do setor.

Afrânio: Você ainda se lembra de quantas pessoas trabalhavam com seu avô?
Jayme: Eu me lembro que existiam umas doze pessoas, dentre eles: meu pai Jason e meus tios Geraldo Martins e Duca e  dois de meus irmãos: José Antônio e o João. Trabalhavam lá também: João de Glória, Efigênio Costa, Avelar, João de João Lopes, Tilinha, João Revés, dentre outros. Sempre digo que, depois da fábrica São Roberto que estava reiniciando suas atividades sobre a direção do Dr. Alexandre, o meu avô era o segundo  empresário que mais empregava em Gouveia.

AfrânioQuanto tempo durou essa última fase vivida por seu avô na lapidação dos diamantes?
Jayme: Acredito que uns quinze anos. O Zé Mulambo, filho de Augusto Filomena, ainda tocou a lapidação por alguns anos nos fundos de sua casa, local hoje onde existe a loja de Materiais de Construção ADM. Passamos por tempos difíceis, crise dos diamantes, quebra da fábrica São Roberto e por fim o declínio e a extinção por completo da lapidação em nossa cidade. No início da década de cinquenta, houve uma migração dos gouveianos para outros centros.  Meu pai Jason, entendeu que seus filhos não teriam a mínima condição de sobreviver  em Gouveia, partiu para uma nova realidade em Belo Horizonte no ano de 1959 e foi logo seguido por outras famílias gouveianas.

AfrânioFiquei sabendo que seu irmão Raul a exemplo de você está retornando a Gouveia. 
Jayme: É sim, primeiro fui eu em 1993, depois veio o Romeu que está vivendo na Bucaina, o José Antônio (Dé), já tinha casa em Gouveia e mudou em 2011. Hoje, com o Raul já somos quatro filhos de D. Izaltina e Jason voltando à terra natal e residindo em Gouveia. 



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